Programa Carta da Terra em Ação

Publicado às 16:23 por Carta da Terra em Ação in , ,
Pela ciranda somos convidados a refletir sobre o meio natural, a cultura e a produção da cidade e a vida. Saiba como foi o primeiro encontro do Curso Cirandas de Saberes, uma parceria do Programa Carta da Terra em Ação e o Programa Metodologias Integrativas.

No vai e vem das águas, a roda balança no compasso das ondas do mar.  É na voz de Lia de Itamaracá, mulher negra, cantadora Pernambucana, cirandeira desde dos 12 anos, que o curso Cirando de Saberes inicia. Os braços e pernas embalam o ritmo da ciranda, que mais do que a técnica, se faz com a emoção e a presença íntegra de cada um. 



Provavelmente vinda de Portugal e Espanha, a ciranda foi aos poucos sendo apropriada pela cultura pernambucana. Criou raízes no Nordeste, incorporando os percadores, o mar, a brasilidade aos seus símbolos, com a “vontade de enfrentar o futuro sem romper a continuidade”, como disse Milton Santos, geógrafo baino, sobre a cultura popular.  A poesia das letras cirandeiras conta a história dos povos da beira mare das ruas e é nesses lugares que ela é dançada. 


É só nos anos 70 que essa expressão do povo se torna mais conhecida. Sai das praias pernambucanas e conquista outros espaços, difundindo essa raiz para as ruas das cidades, para dentro dos salões e agregando a ela todos aqueles que na sua ancestralidade deixaram sua terra natal e guardaram no corpo a memória cirandeira.  

Filha de pai pernambucano, Estela Gomes, focalizadora de Dança Circulares e uma das coordenadoras do Cirandas de Saberes, traz para a roda a força da ancestralidade. Com respeito a todos os mestres cirandeiros, aos tocadores e cantadores e a tudo aquilo que nos antecedeu para que aqui chegássemos com essa estrutura fortalecida, pedimos licença para tecermos juntos o primeiro encontro do Cirandas de Saberes.  

A voz de Luíza Possi conduz à próxima ciranda, “Gandaia das ondas” de Lenine. Dessa vez, somos convidados a nos conectarmos. Conexão da nossa água interna com a água entre todos, com a água da vida que circula, com a água presente no centro da roda que une tantas individualidades em uma só coletividade.  

"Praia, pedra e areia, boto e sereia, os olhos de Iemanjá 

Água! Mágoa do mundo, por um segundo achei que estava lá" - Gandaia das ondas, Lenine. 

É nesse embalo que seguimos para a conversa sobre a origem da Vida na Terra. A pergunta que tantos já se fizeram “Qual a origem da vida?” é o começo de uma história contada pela bióloga Débora Pontalti. 

Dança e história se dialogam, e o processo caótico e turbulento de formação da Terra parece falar sobre o início da ciranda, quando ainda sem entender muito bem os movimentos, há o caos do impacto. Um processo turbulento no qual cada um traz o que tem para doar, meteoros ou pessoas, trazem seus elementos. 

É através do movimento que a vida na Terra se fez. Um acaso, um ponto específico, um calor ideal, transformações espontâneas, uma fagulha que tornou a vida um processo perpetuante. Como Débora contou, “a vida surgiu uma única vez, mas a medida que surge, altera as condições do meio e se modifica em função das alterações.” 

Se entrelaçando, ela se complexifica. Ela vida, ela dança. E num processo de cooperação, de mãos dadas, se organiza e se perpetua, repetindo a mesma estrutura em diversos organismos e criando um centro comum. Num ritmo lento e repetido, acolhendo o diverso, um mar de cores e formas surge, molda e é moldado pela Terra.  

Esse é só o começo de uma longa trajetória que vai do início da vida à produção da cidade. Seguimos mesclando os passos e os movimentos das cirandas com saberes diversos sobre a evolução da vida, arquitetura das plantas, equilíbrio, cultura de paz e educação. 



Facilitadores: Débora Pontalti Marcondes, Estela Gomes, Lia Salomão, Rose Marie Inojosa, Vitor Lucato. 

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