Programa Carta da Terra em Ação

Publicado às 17:21 por Débora

A integração das escolas com os territórios do entorno pode formar redes e parcerias para promover mudanças tanto na escola quanto na cidade.

Na última terça (14), o Carta da Terra em Ação encerrou as atividades da 12ª turma da Formação de Agentes Socioambientais Urbanos com um importante debate. Realizado na sede da UMAPAZ, o tema principal da discussão foi Educação Integral como Política Pública. E as escolas municipais de São Paulo que já viabilizam uma organização onde escola e sociedade formam uma nova rede de parcerias e transformações, estiveram no foco.

Três convidadas abordaram a educação integral de forma complementar, unindo os agentes escola, secretaria de educação e uma entidade de incentivo.  Formaram a mesa a Diretora da Fundação SM, Maria do Pilar Lacerda, a Diretora da Escola Municipal do Ensino Fundamental (EMEF) Amorim Lima, Ana Elisa Siqueira e a Assistente Técnico da Diretoria de Programas Especiais da DRE Butantã, Andrea Tolentino.

Pilar Lacerda destacou que a mudança na escola começa pela mudança na sociedade. “Não podemos pensar o sistema de ensino fora do contexto da cidade", disse Pilar Lacerda, Diretora da Fundação SM e ex- secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC). "Não existe educação integral sem território, e o território é a própria cidade”. Ela explicou que o processo de modificação escolar começa na sociedade, onde o modelo atual de aprendizagem é legitimado pelo histórico do ensino brasileiro, que segue as mesmas diretrizes e disciplinas desde o século XX. Para que a escola mude, ela precisa dialogar com os cidadãos do entorno, respeitando a identidade territorial. Da mesma forma, quando a comunidade é parte da escola novos debates e novas propostas são formuladas, o que transforma as iniciativas sociais e o próprio ambiente escolar. Pensar outro modelo pedagógico, onde o processo de aprendizagem também está fora da sala de aula é fundamental. A vivência empírica, conquistada a partir da observação e experiência nos lugares, ajuda na formação e na aprendizagem das crianças e jovens, já que se reconhecem nos elementos do território.


Andreia Tolentino salientou a necessidade de integrar a escola com a comunidade, trazendo iniciativas culturais e esportivas do território para o âmbito escolar, formando uma rede de educação que vai além da sala de aula. Andreia destacou que a união entre secretarias e órgãos municipais, que podem mapear as ações que já acontecem nos bairros, pode ser uma ponte entre as instituições escolares e as intervenções sociais. A intersetorialidade, ou o trabalho conjunto entre secretarias, como da saúde, do verde e meio ambiente e da educação, abre um enorme leque de possibilidades para os jovens, integrando professores de diversas áreas e com diferentes maneiras de ver o mundo. Tendo a integração como “forma de fazer” política pública, a educação integral se torna uma possibilidade real, onde os alunos usufruem das estruturas da cidade sendo parte do questionamento "que cidade queremos e qual o papel que temos nela". A cidade é instrumento de aprendizado e se beneficia com isso. Essa cidade educadora, que traz o aprendizado após o horário letivo, pode ser vista em várias iniciativas em São Paulo como, por exemplo, o projeto Ocupe a Praça. Criado a partir da organização da sociedade civil, tem como objetivo levar para parques e praças públicas ciclos de debates e intervenções culturais, sempre voltados para a questão da emancipação das minorias e para a humanização da sociedade como um todo,  A integração deste projeto com as escolas, levando a iniciativa para dentro delas e, de outro lado, levando os alunos a ocupar os lugares que lhes pertencem dentro da cidade, culmina em uma nova interação, incentivando os jovens a circularem e conhecerem sua região, se animou Andreia Tolentino.


Por fim, Ana Elisa Siqueira trouxe para o debate a vivência nas escolas que já tem a integralidade da educação no seu centro e estão dando andamento no processo de mudança, tanto no ensino, quanto em novas propostas disciplinares. Uma dessas, a EMEF Desembargador Amorim Lima, representada na Umapaz por sua Diretora, abriu a escola para a comunidade. Iniciando o processo com a participação efetiva das mães dentro da Unidade, a Amorim Lima fez uma reforma estrutural: quebrou as paredes das salas de aula, uma ação simbólica que mostra a importância de enfraquecer também as barreiras do pensamento vigente. Assim a instituição criou uma nova dinâmica de aprendizado, onde alunos de séries diferentes aprendem juntos. A troca diária entre alunos de várias idades é uma ótima ferramenta para que os jovens pensem e construam juntos.


Compartilhar aprendizados também foi uma conquista da EMEF. Aulas de circo, dança e música foram agregadas a uma nova disciplina, denominada Cultura Brasileira. A partir daí, projetos e agentes culturais da comunidade do Butantã, onde a escola fica sediada, passaram a fazer parte do dia a dia do ensino das crianças e dos professores. Cursos técnicos, ministrados por pais voluntários, site e blog, feito por comunicadores do bairro, e festas, organizadas e produzidas também pelos moradores, são formas reais de integração, garantiu Ana Elisa.

Portanto, para você que não é ligado diretamente à uma instituição de ensino, não se sinta fora desse processo. Tornar São Paulo uma cidade educadora é uma experiência urbana, não necessariamente escolar. Fazer parte da rede de agentes transformadores, procurando os movimentos socioambientais e se integrando à eles, é a melhor maneira de começar a promover as mudanças tão necessária. Pesquise, procure e faça parte. Assim, você faz parte da rede que trabalha para São Paulo ser uma cidade mais sustentável e educadora.